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As aventuras (e desventuras) de uma lusitana em terras do Oriente
Ontem uma das notícias em destaque no sapo.pt sublinhava que a China não abdicará da política do filho único, política essa que entrou em vigor há 30 anos e que segundo especialistas chineses evitou o nascimento de "cerca de 500 milhões de nascimentos desde sua introdução". Não quero focar-me na política que só por si é extremamente polémica, e que por uns é considerada a única maneira de impedir a superpopulação, e por outros, é vista como uma lei injusta que só discrimina os mais pobres que como não têm capacidade de "pagar" a multa que advém do nascimento do segundo filho se vêem marginalizados enquanto que os mais ricos podem sempre contornar esta lei e "pagar" o segundo filho.
É bem verdade que as coisas funcionam assim, muitos chineses que conheço têm irmãos e muitos pensam ter dois ou mais filhos, por isso, a verdade é que esta política é também mais uma forma de corrupção e, que mais uma vez põe a olho nú a discrepância entre ricos e pobres. Quem pode e quer pode ter mais filhos, mas sem querer ser cruel, não é justo que num país tão populoso faça sentido ser assim. A meu ver, nas famílias mais pobres, os filhos são, muitas vezes, uma fonte de mão-de-obra, uma "mão a mais" para ajudar no negócio da família, ou mesmo em casa com os mais velhos. Bom, sinceramente não me cabe a mim julgar a razão e a predisposição de pessoas mais pobres para quererem mais filhos, não digo que em todos os casos seja assim, mas muitos desses nascimentos evitados com a político podem ter significado o estancar da pobreza do país, e, por outro, como também já se provou, veio fazer com que a população activa estagnasse e que em muitos sectores se sinta a falta de mão de obra jovem.
Sinceramente para mim o pior nesta situação, não são as crianças que não puderam nascer nem as famílias que viram frustradas a vontade de aumentar a família, aqui em destaque neste vídeo é precisamente a situação precária em que vivem as crianças que contra a lei acabaram por nascer e que hoje não são nada aos olhos da sociedade chinesa porque não têm identidade, não têm quaisquer direitos, não tem direito à educação, nem à assistência médica, nem ao trabalho, nem sequer o direito de se deslocarem de transportes como o comboio, avião, barco etc... a não ser numa situação ilegal.
Acho tão chocante esta situação, coloco-me no lugar desta rapariga do vídeo e só consigo sentir angústia, não ter direito a ser mais do que "ninguém", viver à margem mesmo tendo vontade de querer pertencer à sociedade e não poder fazer nada contra isso, porque os pais decidiram que ainda assim viveria sem identidade, viveria para a família e só dentro dela.
Nem sei, é uma situação tão extrema, tão insólita que nem consigo, quando a oiço contar a sua história, materializar o que significa não ter identidade, ser uma sombra, como se não existisse. Acho triste a história destes "meninos-negros" e acho que é desumano simplesmente ignorá-los e marginalizá-los e chego mesmo a pensar que sinceramente, como no vídeo alerta o especialista, é legitimo que um dia se insurjam contra o sistema e que se tornem criminosos, porque no fim de contas, se não têm quaisquer direitos também não têm de respeitar leis e uma sociedade que prefere simplesmente fazê-los desaparecer das estatísticas pelo bem do país, qual quer que seja esse bem.
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