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As aventuras (e desventuras) de uma lusitana em terras do Oriente
Longe de mim querer entrar em polémicas, defender esta ou a outra parte, cada um tem o direito à sua opinião, não pretendo sequer ser politicamente correcta, nos dias de hoje, isso de "politicamente" correcta quer dizer, a meu ver lá está, tão pouco.
Este é um post especialmente sobre mim, e não sobre como o mundo vê ou sente que a China é! E eu não estou aqui, neste post, a defender essa "China" que foi tomada pela parte, os 1,3 biliões tomados por uma (pequena) parte da sociedade.
Vivo aqui, há quase um ano, vivo aqui todos os dias, respiro o ar poluído que eles também respiram, estou aqui não contra a minha vontade, estou aqui porque quero estar. Sei em que país vivo, tenho consciência das atrocidades que se cometem neste país a torto e a direito, vejo os mendigos, vejo pobreza nas ruas todos os dias, vejo a indiferença dos que passam estampada nas suas caras, sinto essa indiferença, mas não me julgo melhor que eles, não me julgo pior nem melhor, não faço nada para mudar este ou outro país, vivo nele mas não actuo nele.
Se me tornei insensível, pois, mentira, sinto-me exposta a situações que nunca me vi confrontada em Portugal, se as existem em Portugal, não sei, existiram outras, talvez não tão flagrantes como as da menina que morre atropelada, mas nem, por isso, menos dolorosas ou insignificantes. Não preciso ir muito longe, não generalizo, mas a forma, muitas vezes, como se tratam em Portugal os mais velhos indigna-me porque sou neta e não consigo deixar de pensar que se não fossem os meus avós eu não faria parte deste mundo nem seria a pessoa que sou hoje. Não generalizo, não acontece em todas as casas, mas tomemos o exemplo das notícias da morte silenciosa de muitos idosos deixados ao abandono, no mais profundo e doloroso esquecimento. Não acuso ninguém, mas lá está, sou neta e tenho tanto orgulho de amar todos os dias os meus avós e de sempre que os tenho de deixar (sem mim por perto) ficar com o maior dos pesos na alma por os saber mais "desamparados" do conforto que lhes dou e do contacto diário que tanto prezo.
Sei em que país vivo, sei que este país sucumbiu e tem tendência a sucumbir cada vez mais à ganância e à impiedade e sei-os (a muitos) capazes de passar por cima de quem preciso for para chegar lá, ao tão afamado sucesso, ou simplesmente garantir a sua sobrevivência. E, sim, esta falta de sensibilidade e de compaixão deles é chocante, dilacera o coração de qualquer pessoa e, especialmente, de qualquer mãe que assista a estas imagens, não sei o que aquela mãe sentiu, se teve verdadeira culpa ou se foi negligente por alguns minutos mas, ainda assim, era a mãe desta menina e só ela pode viver com o peso desta morte.
Não tento com isto justificar o que se passou ali, não há justificação possível para tal crueldade e frieza, mas, a este ponto, depois de conviver com eles diariamente, consigo dizer que os chineses não são aquelas pessoas que se vêem ali, ou pelo menos, eu conheço muitos que não são nem de perto nem de longe comparáveis aos daquele vídeo. Não percebo o que se passa ali com aquela gente, quase parece mentira, mas é realidade, por trás pode estar medo, pode estar o medo de arcar com as consequências, e neste caso, porque o governo não suporta quaisquer despesas com a assistência ou saúde pública, estaria em causa arcar com as despesas do tratamento e responsabilização pelo tratamento da menina, daí a cobardia de muitos, ainda assim não é justificação, nem numa sociedade que privilegia o colectivo e esquece o indivíduo.
Agora, uma coisa é certa, os valores deles são outros, diferentes dos nossos, mas não posso deixar de realçar que os chineses respeitam quase de maneira sagrada os mais velhos, e, por isso, não são os jovens que tem a última palavra ou a mais forte, a sabedoria pertence aos mais velhos, daí que na sociedade eles assumam o lugar de destaque, sejam ouvidos, bem tratados e respeitados por todos (pela grande maioria).
Vivo numa cultura diferente, esbarro, ainda hoje, muitas vezes com imensos obstáculos culturais, e nem sempre é fácil perceber, mas nunca me foi difícil respeitar, por isso, mesmo que não entenda esforço-me ao máximo para não fazer valer os meus "valores" que muitas vezes só fazem sentido e só se enquadram nos standards ocidentais.
Teria páginas e páginas a escrever sobre este país que, devo confessar, tão bem me acolheu, aliás sairía daqui uma longa dissertação, não acho que seja aqui que o vou fazer. A minha opinião é parcial, está claro, e se ofende ou choca alguém compreendo, tal como compreendi a opinião de muita gente que comentou e criticou os chineses no meu post "Indiferença Humana". Agora se tive a capacidade, ainda que não concordando muitas vezes, de compreender as críticas também certamente espero que percebam o meu "ponto de vista".
Nenhuma sociedade é, no seu todo, perfeita, mas é sempre mais fácil julgar as outras, ao ter que julgar a "nossa" própria! (Uma vez mais é só a minha opinião)!
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