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As aventuras (e desventuras) de uma lusitana em terras do Oriente
O meu dia em imagens:
Primeira: Hora de almoço com a colega chinesa que ensina português, que é uma chinesa bem educada, que diz vir dum sítio limpo, que já viveu em Luanda por 2 anos, mas que, ainda assim, ao comer cospe directamente para a mesa sejam os restos espinhas ou ossos. Uma vez chinesa para sempre chinesa.
Segunda: Aluna do 2.º ano na apresentação do trabalho de grupo, notícia sobre o PSY, o tal sul-coreano muito famoso com o raio do hit musical gangnam style. Não é que o raio da garota pôs-se a dançar como o senhor, tal e qual! haha adorei, foi só rir, no final só pude dizer "muito bom". Pena não ter onseguido fazer um vídeo.
Terceira: Dois alunos que já não ponham os pés na minha aula vai-se lá saber porquê? Quando os vi, fiz-lhes uma festa em chinês para ser mais dramático "Hao jiu bu jian" ou seja, "Há quanto tempo"! Em alto e bom som. Toda a turma em risota, os pobrezitos desejaram um buraco para se esconderem. Pobrezinhos dos meninos.
Quarta e última: O dia não é dia se não tiver chineses a olharem estupefactos para nós, as aliens, mas hoje no autocarro tínhamos um, virado de propósito para trás, plus palito na boca a rolar daqui para ali, a olhar feito estúpido para nós, durante toda a viagem, até que eu não aguentei mais e perguntei-lhe "há algum problema?". Certamente haveria. E era na cabeça dele. E dos bem grandes.
Hoje dois colegas disseram-me ao jantar que parecia cansada, e eu pensei para mim "raios se ainda nem comecei a semana de trabalho como posso aparentar um look tão cansado que salta à vista de pessoas que já não vejo há tanto tempo e que mal me conhecem?". Só pode querer dizer que estou cansada, e que sou infinitamente transparente.
O dia-a-dia cansa, o corpo cansa-se da rotina, e mais do que isso, a alma cansa-se mais do que tudo o resto quando tudo roda à volta sempre das mesmas tensões e chatices, a rotina é silenciosa e impiedosa e só faz desgastar a alma que se quer nova mas que cada vez se acha mais velha e usada.
Mais vale pensar que para as férias já só falta mais ou menos um mês e esperar que esse pensamento acalente corpo e alma.
Não é queridinho, nem fofinho, ou se calhar até é não sei. Isto porque nunca estive no Brasil, mas gostava, caramba umas férias naquelas praias divinais agora íam bem a calhar que aqui tá um frio dos diabos.
Mas este post é a propósito de uma curiosidade linguística que desconhecia, já se sabe que o português do Brasil (e não brasileiro) e o português de Portugal são bem diferentes, ainda que não tanto como alguns dialectos chineses que não se assemelham nada (nem um corno) ao mandarim. Mas, e isto porque eu uso nas minhas aulas um livro de uma professora Yuan Aiping, que certamente vive ou viveu no Brasil, e que, por isso, escreve o seu livro seguindo a variante Português do Brasil foi aí que começaram as descobertas.
Agora a preparar as aulas, deparei-me com isto "minutinho", "momentinho", "instantinho". Agora percebo a professora chinesa que fala abrasileirado estar sempre a dizer "um momentinho". Bem nós abusamos imenso do "bocadinho" mas curioso estes não nos lembrámos nós. Nem um pouquinho lol.
No livro ainda consta coisas engrançadas como legal; ônibus; suco e por aí além.
Único problema é que estas diferenças fazem um pequeno nó na cabeça dos alunos, que ficam sempre ali no meio sem saber bem como se diz. Principalmente porque em Portugal para tudo usamos os artigos definidos "o, os, a, as" e no Brasil, ao falar, omitem estes artigos, mas que a mim me soa mal, porque ouvir dizer "Joana foi ao banco" e eu sempre a corrigir "A Joana foi ao banco", "Pedro está com frio" e eu "O Pedro está com frio" e N outras situações. Não é a querer passar por cima do português do Brasil mas é dificil chegar-se a um consenso entre o que se usa e sempre se usou e o que os outros usam. Puxa vida, não é fácil ensinar o meio termo.
Ando numa fase introspectiva, talvez por andar com mais tempo para parar e realmente pensar na vida, na minha principalmente, que é a única que me diz inteiramente respeito, e não a partilhando com ninguém, a não ser com os meus botões, então tenho de me entender comigo mesma.
Se calhar o frio, que não tem dado descanso, mais a chuva, o vento, e o céu cinzento que parecem que vieram para ficar indeterminadamente também tem contribuído para o despoletar deste período mais intimista e introspectivo. Não sei, apetece-me escrever sobre isto, sobre nada, nada em concreto, coisas do dia-a-dia que, a meu ver, significam muito pouco para quem as lê e não as vive. Palavras que não chegam a lado nenhum, pensamentos inconclusivos, sem razão de ser, sem sentido, à deriva no emaranhado precipício de pensamentos que surgem e logo se desfragmentam em mil pedaços.
Revejo-me, avalio-me, reavalio-me, relembro conversas, palavras, olhares, momentos que cada vez me soam mais a passado, num espaço que se avista mais distante, mais improvável. E questiono a veracidade desses momentos, que entre mil e outros momentos, não consomem mais do que uma pequena porção do tempo da minha vida e que ainda assim lhe conferem substância.
Momentos, palavras, olhares que consomem um segundo da tua vida, e que deixam uma marca por muito tempo. Sensações que te aquecem a alma, que te despertam, que te relembram o sentido da vida. Esse que tão facilmente esquecemos no passar moroso dos dias cinzentos de chuva e frio. Esse que não nos deixa esquecer que estamos vivos, que sentido faz estarmos vivos, sermos meros peões de um caprichoso jogo à escala universal e, ainda no meio disso tudo e mais importante que tudo o resto, pensar que tudo (nós) começou do nada e que ao nada regressará.
Tinha a sensação de não ser assim tão impressionável, mas desde que cheguei a terras orientais, ando muito sensível e uma das coisas que me provoca mais pavor é estar constantemente a ser olhada, apontada, comentada pelos chineses que nunca viram uma laowai (estrangeira) por estas longínquas terras. Agora adoptei uma técnica nova, ignoro, não olho absolutamente para ninguém na cara, evito-os, ignoro os seus olhares, ainda assim sinto os seus olhares em bico em cima de mim, como se eu fosse uma atracção do circo. Mas até que tem corrido bem, que isto de tar sempre a mandar olhares intimidantes já me andava a cansar, mas lá que 95% das vezes funcionava lá isso funcionava.
Hoje aconteceu-me o contrário, e juro que não foi por mal, mas por acaso pus os olhos em cima de uma chinesa que me fez lembrar tanto alguém, como se se tratasse do seu clone, da sua outra metade, tudo era parecido, tanto que me assustou, e durante a viagem toda de autocarro, eu sentada, ela de pé à minha frente não consegui desgrudar o olhar dela. É claro que ela notou, e sentiu-se francamente incomodada, juro que tentei não olhar, mas há coisas estranhas que acontecem por motivos indecifráveis.
Como, mas como há duas pessoas fisicamente tão idênticas no mundo, e entre tantas pessoas eu tinha de ver o clone logo daquela?
Há vidas que tocam a tua, as quais têm uma influência na tua vida maior que imaginavas poder ser possível. Está na hora de dar uma volta de 180º graus na minha vida, e que está pela frente um fechar de um ciclo que não me tem deixado estar em paz.
É o que os meus alunos são. Esta semana andei doida a fazer testes intercalares para os meus 130 alunos das 3 turmas do 1º ano. É que ouvir em 90 minutos 40 alunos a apresentarem-se e a dizerem sempre a mesma coisa cansa para caraças, o teste consistia em apresentarem-se, nome, idade, profissão, curso, gostos, discrição física, psicológica, e razão porque estudam português. A parte mais cómica foi ouvi-los dizer que eram gordas, garotas normalíssimas, gordas é que não eram, que eram bonitas, modéstia mesmo posta à parte, hihi.
Mas o melhor ainda foi a parte puxa saco quando diziam "estudo português porque gosto muito da minha professora de português, ela é muito bonita e chama-se A*******". Outra, "estudo português porque tenho duas professoras muito simpáticas, chamadas A***** e S*****". Deve ser mesmo isso, devem estudar mesmo português para contemplar as nossas carinhas larocas ocidentais.
Fiquei mesmo por aqui de apresentações, para o final já não podia ouvir mais "eu chamo-me bla bla bla, tenho bla anos, estudo português no instituto superior bla bla bla, gosto de bla bla bla" etc, é que tudo já me soava a repetido, infinitamente igual. Mas bom, exames orais são exames orais, não há volta a dar-lhe. E eu ainda inventei de os pôr a fazer exame escrito para não perturbarem as apresentações dos colegas seguintes, ou seja, trabalho extra para mim, correções da parte escrita, mas era isso ou um circo do tamanho do mundo, que manter aquelas alminhas caladas e sossegadas não é tarefa fácil.
O mais importante é que o balanço foi positivo, já sabem (quase) todos apresentar-se como deve ser em bom português :) missão cumprida!
Duma sementinha indefesa e vulnerável nasce uma esperança, um embrião que vira bebé, um bebé que vira gente, que cresce e se torna numa pessoa com sonhos, aspirações e desafios pela frente, que terá um trabalho, uma família, que fará parte dum meio, duma sociedade, do mundo, e que aspira a crescer sempre mais pessoal e profissionalmente.
Pelo caminho terá de ultrapassar muitos obstáculos, aventurar-se mais ou menos, terá de lutar por conseguir o que quer, terá de fazer-se à vida e assumir as rédeas do seu destino (somos nós que o fazemos com um misto de coincidências pelo meio). Terá de delinear estratégias, fazer opções, fazer por estar no sítio certo à hora certa, que milagres não acontecem, terá de se aguentar firme e forte contra as marés mais intempestivas, contra os ventos contrários, e com mais convicção, mais vontade e pulso firme lá dobrará o cabo das tormentas (quase todos temos de dobrá-lo, mais cedo ou mais tarde).
Somos um grão de areia no universo, únicos contudo, não há duas pessoas iguais no mundo, (nem os gémeos verdadeiros), e por isso, somos todos uma espécie de milagre imitável.
No entanto, não é só o que fazemos na vida, as experiências que tivemos ou os conhecimentos que adquirimos que fazem de nós pessoas especiais e únicas, essa é apenas uma parte, a mais importante é a que levamos cá dentro, o nosso interior, a capacidade de sermos boas pessoas, a nossa capacidade de termos um bom carácter e agir consoante ele, sermos fiéis a nós próprios e fiéis aos nossos amigos, familiares, amores, colegas.
A cobiça a que poucos escapam, a inveja que nos ataca a todos, a mesquinhez de muitos, a maledicência de que todos sofremos um pouco, os ciúmes, uns saudáveis, outros doentios também fazem parte de cada um de nós, que não há pessoas perfeitas, só nos filmes ou contos de fadas. São também estas imperfeições que nos fazem únicos, diferentes, e não são necessariamente más pessoas, se em dose q.b claro. Agora quando encontramos pessoas que por mais que queiram mostrar que são uma coisa que nunca serão, porque têm o coração, a alma e o corpo manchados irreparavelmente de ódio, raiva e inveja, então aí é lamentar a sua existência e desejar não ter de conviver com essas pessoas.
Isto tudo para dizer o quê, que sim, meus amigos, virão tempos difíceis por aí, que virão, para mim e para vocês, virão tempestades, e intempéries bravas mas nós estaremos cá uns para os outros de coração aberto e solidário, esse que sabe por quem bater, esse que bate descompassadamente pelos familiares, amigos e amores, esse que é um fiel amigo sábio e generoso e que estará sempre ao vosso dispor. O meu está e sempre estará, como sei que o vosso está por mim. Força...
Pois é amigos, ando meio ausente das lides bloguistas mas, na verdade, entre preparar aulas, testes intercalares, avaliar trabalhos de grupo, ir às aulas de chinês, fazer compras de inverno que o malvado já chegou em força, organizar outras coisas que tem surgido, pensar na vida, muito importante e, tem sido algo que me tem roubado muito tempo, sair para espairecer e beber uns longos cafezinhos também para dar sossego à cabeça, e ainda arranjar tempo para dormir decentemente, não sobra muito tempo.
Por isso, nos próximos tempos não vou andar tanto por aqui é que com isto dos testes intercalares, que ninguém me obriga a fazer, mas que não sendo assim eles não estudam e não aprendem, o que significa tempo perdido de aulas que dei, então bora lá carregá-los de testes e tpcs, fico mesmo atolada de trabalho extra. Quem disse que ensinar português não dá muito trabalho? É a nossa língua materna mas ainda assim perde-se muito tempo a pensar o que ensinar, como ensinar, o que avaliar e como.
Bom deixem-me lá voltar ao trabalho, o que vale é que quem corre por gosto não cansa...que grande balela, cansa igual!
Para em boa verdade não os chamar filhos da mãe que é o que esta corja de taxistas são, oh raça duma figa sempre prontos para te torrar a paciência, abusar da tua confiança, forçar os limites da tua calma e dar cabo da tua boa educação porque é impossível lidar com estes gajos com boas maneiras, tem de ser sempre aos berros, sempre a mandar vir, sempre a ensinar o caminho, a repreender.
As viagens de táxi nunca são viagens descansadas, são sempre verdadeiras provas de fogo, isto porque se estão sempre a armar em espertos, ou porque nos querem enganar e andar connosco às voltas ou porque não aceitam o que lhes dizemos, porque os proibimos de ir pelos trajectos que sabemos que ficará mais caro no final, ou porque são uns completos idiotas que não sabem conduzir e estão sempre a conduzir por cima dos passeios, no meio das filas, ou estão sempre a berrar ou a apitar, uma infinidade de razões.
Hoje o espertalhão que nos calhou na rifa lá nos queria lixar primeiro porque nos apanhou às duas e ainda não satisfeito, e porque tinha um lugar livre à frente queria parar e levar mais alguém, para meter o dinheiro dos segundos clientes ao bolso, mandei-lhe um berro que parece que percebeu. Depois era porque estava trânsito na ponte e não quis ir pela ponte, lá foi dar as suas voltas, conclusão mais trânsito apanhou, deu azo a discussão entre o taxista burro e a tuga enervada e com razão. Até eu fiquei com medo, que quando aquela mulher se chateia é vê-los muito atrapalhados a baixarem as orelhas porque tentar ripostar não é boa ideia. Ah tuga brava :)
Corja do piorio, são uma vergonha de gente, que além de serem porcos, normalmente passam a viagem sempre a escarrar e a cuspir para fora do janela do carro, são do mais ranhoso que por cá se encontra, gente mal-educada, sem modos, sem carácter, sem escrúpulos, salvo raras excepções claro que as há, mas os maus fazem-me esquecer esses que são mesmo uma raridade.
Já nos aconteceu inclusive uma vez termos de sair do táxi porque dissemos claramente por onde não queríamos ir, o gajo disse que não e o colega espanhol esperou o taxista parar, saiu do carro disparado, e mandou-nos sair e o taxista ficou pralá furibundo a barafustar. Quem manda armarem-se em espertos, conclusão perdeu ele o dinheiro e ganhámos nós porque não só não lhe pagámos a viagem como apanhando outro, a viagem no final ficou-nos mais barata. Limpinho.
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